segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MARCAS


















Vô João em meio a sua sabedoria de gente do interior sempre dizia que se via um bom trabalhador pelas canelas finas. Muitas vezes o vi medindo a canela com as próprias mãos e ao final sempre dizia:
 - tá vendo sou um bom trabalhador! 
E houve vezes que inflado de orgulho usava uma tia como exemplo: 
- essa puxou ao pai veja as canelinhas finas. 

Minha tia não gostava muito da comparação. Como mulher gostaria de ser reconhecida por ter pernas grossas e bem torneadas e não canelas finas.  

Sempre me perguntei de onde ele tinha tirado aquela ideia. Faria parte de algum tipo de folclore da região que ele nasceu? Era um costume passado de pai para filho entre o povo da roça...


Pois bem, em meio aos meus estudos sobre o processo da escravidão no Brasil pude constatar que a região de Pernambuco (terra de meu avô), teve uma das maiores concentrações de escravos do país e que um dos critérios usados pelos Senhores (donos das fazendas) para a aquisição de bons escravos "bons trabalhadores" era o fato de terem canelas finas.


Meu querido avô, homem livre do século XXI ainda carregava o estigmas do tempo onde o negro era cativo. Pode parecer bobagem, mas pensem quantas heranças como essa podemos está guardando inconscientemente até o dia de hoje?


(Saudades eternas do Vô João)

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