quarta-feira, 29 de abril de 2015

Omolu -cultura afro



Dizem que o velho Omolu caminhava indiferente a tudo. Passos lentos, típico dos idosos, andar trôpego... Não ouvia quando as pessoas o chamavam para um simples cumprimento. Outros, vendo um velhinho tão simpático, lhe chamavam apenas para cumprimentar, mas ele seguia indiferente.

_Deve estar surdinho - diziam alguns, atribuindo a indiferença à idade.
Omolu não estava surdo, tampouco era mal educado. Apenas tinha adquirido o ouvido seletivo que a idade lhe permitia. Sabia que não tinha tempo a perder. Em pensamento abençoava cada um que o chamava, mas não queria gastar seu tempo com amenidades. Sabia que coisas mais importantes o esperavam lá na frente. Mas preferia permanecer em silêncio e oração.
Omolu passou a ser mal visto por alguns.

_É um velho antipático - diziam - não responde a um simples cumprimento.
Não... Omolu apenas sabia que tinha que continuar caminhando.
E assim foi... caminhou até que encontrou uma casa pobre, uma cabana coberta de de palha - muito parecida com as palhas que lhe serviam de roupa.
Sem muitos rodeios entrou na cabana. Ali encontrou uma criança doente, com febre alta, pústulas pelo corpo. As feridas eram tão fétidas que até os pais, mesmo amando imensamente a criança, tinham receio de tocá-las.

O velho Omolu nada disse. Apenas continuou sussurrando sua prece. E passou sua mão trêmula sobre o corpo doente da pobre criança.
Imediatamente a febre sumiu e as feridas começaram a estourar: haviam virado pipoca, e saltava de um lado para outro, de forma tão inesperada que a criança que se encontrava doente até sorriu.

Sem dizer mais nada, o velho Omolu se levantou e saiu da cabana, continuando sua caminhada lentamente e em silêncio, apenas balbuciando sua prece.

Os poucos que presenciaram a história compreenderam e espalharam a história. As pessoas não criticaram mais Omolu e, ao contrário disso, passaram a respeitar seu silêncio.
Agora, sempre que Omolu passava, em respeito as pessoas diziam: "Atotô"!!! - que significa "silêncio, ele está na terra".

Douglas Fersan

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